domingo, 25 de janeiro de 2009

Supreenda-me!

Por Moacyr Scliar

























Façam a seguinte experiência: entrem no google digitem a expressão "Surpreenda-me" ou o equivalente em inglês "Surprise me". Sabem quantas referências vocês obterão? Mais de 30 milhões.Surpreenda-me, pedem canções, poemas, blogs. Surpreenda-me, pedem-nos as pessoas em geral.Com boas razões.Temos uma tendência irresistível para cair na rotina, para repetir as mesmas coisas, para dizer o que já foi dito, para olhar o que já foi visto.
Por que fazemos isso?Em primeiro lugar, por temor ao desconhecido; no fundo, bem no fundo, achamos que as surpresas em geral são desagradáveis e que temos de evitá-las.Em segundo lugar, por comodidade e preguiça.É mais fácil repetir a rotina.Isso até pode funcionar quando se trata, por exemplo, de um trabalho no qual a inovação não é fundamental; ai, "more of the same", mais da mesma coisa talvez seja inevitável.
Mas quando falamos na relação a dois a coisa é completamente diferente.Qualquer paixão, por mais intensa que seja, acaba liquidada pela rotina. Muitos jovens sabem disso e se perguntam, inquietos: como renovar os sentimentos? Como redescobrir o amor a cada encontro? A resposta está no "surpreenda-me". Nenhuma novidade nisto: quem escreve contos, como eu, sabe que uma história bem-sucedida, a história que arrebatará o leitor, é aquela que guarda uma surpresa para o final.
Mas as histórias de amor que vivemos na realidade não precisam esperar o final.A surpresa pode aparecer a qualquer momento: um lugar diferente, uma viagem, uma frase, um gesto.Surpreender a pessoa amada é partilhar daquela emoção que tinham os antigos navegantes quando chegavam a um novo país. E, se navegar é preciso, surpreender também é preciso, para chegar ao país da duradoura paixão."

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