sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O ministro e o aborto
















Por Patrícia Zaidan


- Deixar que adolescentes comprem remédios abortivos em camelôs é uma irresponsabilidade do Estado.
- Fechar os olhos para a existência de clínicas clandestinas, que matam mulheres por infecção ou imperícia, é um crime.
- Tomar como ré a mulher que aborta é desumano.Esta introdução é para dizer que o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, tem toda a razão quando pede um debate urgente sobre o aborto. Trata-se de saúde pública: só em 2006, o SUS realizou 220 mil curetagens pós-aborto. Nem o governo sabe dizer quantas foram feitas depois de intervenções em fundo de quintal sob condições inseguras. O ministério também não contabiliza o número de óbitos nessas situações.Pai de quatro filhos e brasileiro corajoso, Temporão não merecia ser agredido na segunda-feira, 9 de abril, em Fortaleza. Um barulhento protesto, capitaneado pelo deputado federal baiano Luiz Bassuma, afrontou o ministro, que lançava programas de promoção à saúde, num ginásio da periferia. Suas palavras foram abafadas por vaias e pelo som estridente de um trio elétrico. O time de Bassuma -- líder no Congresso dos parlamentares que ignoram a sangrenta realidade -- ainda exibiu faixas ofensivas. Uma delas: "O ministro é da saúde ou da morte?" A confusão foi interrompida pela polícia.Temporão não dá mostras de que vá recuar: tem pedido às mulheres que se manifestem, que comprem a briga, já que - lembra ele - elas devem ser as maiores interessadas em se defender e em preservar a vida.O que nos cabe?
Uma posição sensata é dar apoio ao debate. O silêncio não reduz a morte, apenas a encobre. No Congresso Nacional tramita uma proposta de plebiscito para que a população opine sobre mudanças na lei do aborto, que hoje permite a interrupção apenas quando a gestação provem de estupro ou expõe a vida da grávida a risco grave.Nos cabe ainda mais: lutar para que a mulher, desde cedo, possa contar com educação reprodutiva para se prevenir da gravidez.

Nenhum comentário: